quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Cooperativas, apenas em tempos de crise?

Nos últimos anos temos vindo a recolher dados positivos sobre cooperativas. São especialmente valiosos os números que nos dizem-nos que o cooperativismo num contexto tão negativo como o actual, não destroe postos de trabalho, mas ainda gera novos postos.
Dados fornecidos pela Confederação de Cooperativas da Catalunha (Coopcat), referente ao primeiro semestre de 2014 mostra a criação líquida de 4.226 novos postos de trabalho ao longo do ano passado. E desde 2009 tem havido uma criação líquida de 3.128 postos de trabalho.

As cooperativas são entidades que não priorizam a maximização do lucro, mas sim a qualidade e a manutenção dos postos de trabalho. Reforçamos essa Ideia quando vemos que no sector cooperativo, mais de 78% dos postos de trabalho são de contrato sem termo. (Fonte: Coopcat)

Mas eu acho que nós subestimamos, e muito, o potencial do cooperativismo ao ficarmos satisfeitos com que seja um instrumento válido apenas para momentos de crise. Não se trata, tão pouco, que o cooperativismo nos ofereça uma boia para navegar em mares revoltos e trovoadas isoladas. Os pontos fortes e o potencial do cooperativismo podem ser usados para transformar a economia e a sociedade.

As cooperativas são organizações que geram riqueza e envolvem dois valores adicionais. Por um lado, a riqueza gerada não o é de qualquer maneira, mas com base em projetos que colocam a pessoa no centro e tendo em conta a comunidade e o meio ambiente em que se desenvolvem. "Não vale tudo para ganhar dinheiro." E também, não se trata apenas de criar riqueza, mas que esta seja distribuída igualmente entre os parceiros do projecto. Este elemento é altamente transformador.

Além disso, as cooperativas têm o poder de ser escolas de democracia, que  em seguida, podemos extrapolar para a sociedade. Aprender a decidir. Algo que pode parecer elementar, mas não é. Se aprendermos a decidir na nossa empresa, no nosso local de trabalho, em vez de só obedecer, então também podemos construir a sociedade em que viver não se concilia com simplesmente obedecer, mas onde queremos decidir e tomar parte nas decisões transcendentais e quotidianas que nos envolvem. Por isso, o cooperativismo pode ser um elemento que estimula o  envolvimento e a participação cidadã na política de cada dia e de modo a que as pessoas comuns não se conformem ou resignem, apenas.

Finalmente o cooperativismo pode ser um elemento que conduz à propriedade comum das empresas, à sua apropriação/propriedade pelo conjunto da sociedade. Som Energia, por exemplo, mostra que o sector da energia não tem que estar nas mãos de um oligopólio pseudo-gangster, mas que podemos criar instrumentos democratizadores e colocar, sob o domínio de todo o conjunto da sociedade, um projecto que pertence à própria sociedade e que, portanto, nunca se virará contra ela. O mesmo se aplica no caso dos ateneus e espaços sociais  auto-gestionados como o La Flor de Mayo, ou espaço Germanetes, ou o Can Batlló ou o próprio caso de Coop57 no setor financeiro.

O para o comum e o pelo comum, pode ser uma espinha dorsal da sociedade futura onde a cidadania se apodere de áreas de produção, consumo e socialização. Fórmulas horizontais, democráticas e participativas que estimulem o serviço e o trabalho para o bem-estar da maioria.

O cooperativismo tem uma potencialidade tão grande que pode ser algo que transcende uma simples fórmula empresarial e tornar-se motor de uma mudança social mais profunda.

Xavi Teis, COOP57, Catalunha


TEXTO ORIGINAL, em catalão no blog ARA